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segunda-feira, 29 de agosto de 2016

INCUBADORAS INOVADORAS: O BEM SUCEDIDO CASO DA SBCSOL

SBCSol inovou ao conciliar política pública de fomento à economia solidária com o potencial que a universidade oferece
*por Jefferson José da Conceição e Vanderléa Lima Sena Pereira
 São dois os objetivos deste artigo. O primeiro é recuperar a experiência exitosa da implantação e funcionamento da SBCSol (Incubadora de Empreendimentos Solidários de São Bernardo), mostrando-a como um projeto inédito e premiado no Brasil. O segundo é destacar que, ao não trabalhar integralmente com o conceito de incubação física dos empreendimentos, a SBCSol representou um passo a mais no know how dos processos de incubação, podendo servir inclusive como referência para as incubadoras virtuais, que aos poucos vão sendo instaladas no país.
Comecemos exatamente por este segundo objetivo.
Assim, texto publicado neste blog, em 2 de agosto, tratou do tema das incubadoras Virtuais. intitulado “Incubadora de empresas: do modelo tradicional à virtualidade”, o texto foi escrito por Jefferson Conceição em conjunto com Alessandra Rosa. Nele, discutiu-se o formato da incubação virtual como uma das novas tendências internacionais em termos de processos avançados de incubação.
No artigo, informou-se que a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo e da Agência São Paulo de Desenvolvimento, busca construir, em parceria com importante universidade pública, a sua incubadora virtual.
De fato, pretende-se que a incubadora virtual do Parque Tecnológico de São Paulo trabalhe fortemente a partir da virtualidade. Em outras palavras, almeja-se que a incubadora virtual não tenha sede física, mas que ela seja baseada em plataforma moderna de interação entre gestores, incubados, professores e todos os parceiros envolvidos. Haverá, evidentemente, o planejamento de encontros físicos, presenciais, de trabalho. Mas o foco da incubação será predominantemente virtual.
Neste sentido, retomar a experiência inovadora da SBCSol (Incubadora de Empreendimentos Solidários de São Bernardo) pode ser de importante valia, mesmo sendo esta incubadora focada na economia solidária e não propriamente em empreendimentos tecnológicos. Pode ser útil especialmente porque a SBCSol também não incubou os empreendimentos em um espaço físico determinado.
Na SBCSol, cada empreendimento tem o seu próprio espaço de funcionamento, embora haja uma sede localizada na Universidade Metodista. Assim, a SBCSol pode ser considerada uma espécie de incubadora híbrida, que contempla características das incubadoras tradicionais e alguns aspectos das incubadoras virtuais.
Mais: a SBCSol foi fruto de parceria entre uma Prefeitura (no caso, a Prefeitura de São Bernardo, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo do Município), uma universidade (a Universidade Metodista de São Paulo) e a Finep.
O projeto foi construído desde o início com o envolvimento da universidade. Somente após isto buscou-se os recursos necessários para a sua execução (o que se deu com a parceria da Finep). Isto é muito importante, porque permite uma calibragem exata do projeto, o que é bem diferente de quando se tem primeiramente os recursos financeiros e, então, se vai buscar os parceiros para a implantação do projeto.
Registre-se que os dois autores deste artigo compuseram o time que esteve a frente da condução da implantação e gestão da SBCSol. O co-autor era então o Secretário de Desenvolvimento, Trabalho e Turismo de São Bernardo (cargo que ocupou entre janeiro de 2009 e julho de 2015); a co-autora era a coordenadora técnica da SBCSol.
Digno de nota também é que, em 17 de junho deste ano, a gestão municipal de São Bernardo recebeu do Sebrae-SP o Selo de Prefeito Empreendedor. A cidade participou da IX Edição do Prêmio Prefeito Empreendedor, por meio de dois projetos: um deles apresentava a experiência de estruturação e execução de uma rede de onze APLs (Arranjos Produtivos Locais) constituídos e coordenados pela prefeitura entre 2012 e 2015. O outro projeto (o de nº 2.354870/2015) tratava justamente da experiência da incubadora de empreendimentos solidários de São Bernardo, a SBCSol. A SBCSol, premiada, competiu na categoria “Inovação e Sustentabilidade”.

A experiência da SBCSol

Uma das ações mais importantes desenvolvidas pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de São Bernardo em relação à economia solidária, entre 2009 e meados de 2015, foi a implantação, em 2012, da SBCSol.
Esta incubadora foi resultado de parceria entre o Instituto Granbery/Universidade Metodista, a prefeitura e a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.
A SBCSol teve o desafio de criar uma metodologia específica de incubação para os empreendimentos solidários, bem como apoiá-los com capacitação diversas. Na prática, isto significava também tornar os empreendimentos solidários competitivos e capazes de concorrer no mercado capitalista. Isto envolvia ainda a participação da economia solidária em processos de licitação dos poderes públicos municipal, estadual e federal.
É possível extrair elementos importantes da experiência da SBCSol. Uma delas é a necessidade de que o processo de incubação de economia solidária enfatize a busca constante da qualidade dos produtos e serviços ofertados pelos empreendimentos, o que requer, por sua vez, o aprimoramento persistente dos processos de produção e de prestação de serviços.
Outro elemento a destacar foi o da discussão dos rumos da formalização dos empreendimentos solidários, se na forma de cooperativa, associação, pequena empresa, entre outras. Certamente, norteou a discussão e escolha o caminho que possibilitasse dar melhores condições de remuneração aos seus sócios. Mas este foi apenas um dos pontos levados em conta.
Como resultado, a SBCSol realizou a incubação de 21 negócios, sendo 18 empreendimentos e 3 redes (Rede Alimentação, Rede Artesanato e Rede Reciclagem Têxtil); 4 seminários de desenvolvimento metodológico, divulgação e compartilhamento dos resultados do projeto; 10 cartilhas temáticas de formação e 10 oficinas gerenciais de capacitação; montagem de biblioteca com 1,2 mil títulos ; site, blog e perfil da SBCSol; 2 Livros editados e publicados e 1 vídeo institucional; 9 artigos e 2 Teses de Doutorado; inserção dos Estudos da Economia Solidária na grade curricular na disciplina de gestão do terceiro setor.
No total, 180 pessoas diretas (e 460 pessoas indiretamente) foram beneficiadas pelo projeto. Mais de 40 professores, pesquisadores e alunos estiveram envolvidos no projeto.

As publicações que relatam a experiência da SBCSol

Boa parte da experiência da SBCSol está contada em dois livros. O primeiro deles é “A Política Pública e o papel da universidade: reflexões da Incubadora de empreendimentos solidários de São Bernardo do Campo- SBCSol”, organizado por Douglas Murilo Siqueira e Fabiana Cabrera Silva e lançado ela editora da Universidade Metodista em 2014. Neste livro, consta artigo deste que vos escreve.
O segundo livro é “Metodologia de Incubação: Experiências de Economia Solidária em São Bernardo do Campo”, organizado por Daniela Sampaio Kavasaki Gomes, Renata Mendes e Cristina Paixão Lopes.
Lançado em 2015, a publicação, por meio de diversas ilustrações, relata as experiências com os grupos incubados a partir da metodologia aplicada, enfatizando desde princípios da autogestão até processos de sua formalização e estruturação.
Entre os autores de artigos no livro, estão alguns dos gestores que estiveram diretamente envolvidos como projeto, como Nilson Tadashi Oda, Vanderléa Lima Sena Pereira e Elizabete de Jesus Rocha. O livro pode ser baixado aqui.
Cabe ter claro que a SBCSol, em si mesma, foi uma inovação no Brasil, pois conciliou a política pública de fomento à economia solidária com o potencial de aprendizagem que a universidade oferece. Este modelo pode agora ser replicado em outras localidades. Evidentemente, ao ser replicado, é fundamental potencializar seus pontos fortes e eliminar ou reduzir seus problemas.
Neste final, queremos registrar que a segunda parte deste artigo que ora concluímos é uma versão ajustada do texto “A Economia Solidária e o papel do poder público”, publicado pelo mesmo autor, em 4/7/2016, no ABCD MAIOR.

Jefferson José da Conceição é Prof. Dr. da USCS e Atual Diretor Técnico da Agência São Paulo de Desenvolvimento. Foi Secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de São Bernardo do Campo entre janeiro de 2009 e julho de 2015. Foi Diretor-Superintendente do SBCPrev entre ago.2015 e fev.2016
Vanderléa Lima Sena Pereira é administradora de empresas com especialização em Empreendedorismo e Economia Solidária. É gestora das ações de desenvolvimento local da Agência São Paulo de Desenvolvimento. Foi coordenadora técnica da Incubadora SBCSol.

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