Nota técnica
“ÍNDICE DE SAÚDE FINANCEIRA DO BRASILEIRO
(I-SFB)”: CONSIDERAÇÕES SOBRE A PESQUISA FEBRABAN*
Cláudio Pereira Noronha[2]
Jefferson José da
Conceição[3]
Vivian Machado[4]
Palavras-chave: educação financeira; indicador de saúde financeira;
endividamento individual; finanças individuais.
Introdução
A Federação Brasileira de Bancos
(Febraban) divulgou, em julho de 2021, um novo indicador financeiro: o “Índice
de Saúde Financeira do Brasileiro (I-SFB)”, realizado em cooperação técnica com
o Banco Central, outras instituições financeiras e estudiosos ligados ao mundo
acadêmico. Trata-se, segundo a entidade, de “uma
ferramenta para diagnóstico da saúde financeira geral das pessoas, bem como de
diferentes dimensões que o compõem”.
De modo ambicioso, a Febraban enaltece o
indicador e diz que o I-SFB estará disponível gratuitamente a todos os
brasileiros, apontará dimensões educacionais a serem trabalhadas em programas
didáticos e contribuirá para o
aperfeiçoamentode políticas públicas e da ação privada em prol da educação
financeira.
Esta nota técnica faz uma
breve síntese dos objetivos e da metodologia da pesquisa, expõe os principais
resultados da aplicação do índice para o ano de 2020 e levanta algumas
considerações críticas sobre a referida pesquisa.
Antes de apresentarmos o
Índice de Saúde Financeira construído pela Febraban, cabe realçar que o tema da
educação financeira vem sendo cada vez mais objeto de atenção entre
especialistas ligados a órgãos públicos e privados, bem como entre
pesquisadores ligados ao mundo acadêmico. Na literatura internacional, diversos
trabalhos como os de LUSARDI (2003); WALSTAD et al. (2010); FERNANDES et al.
(2013); KAISER & MENKHOFF (2017); e HASTINGS et al. (2021) se debruçaram
sobre o tema. Igualmente são vários os estudos na literatura nacional,
destacando-se, entre outros, os de LUSARDI (2003); LUCCI (2006); MATTA (2007);
SAVOIA et al. (2007); e VIEIRA et al. (2011).
1. Breve apresentação do “Índice de Saúde
Financeira do Brasileiro (I-SFB)”
São dois os objetivos da
Pesquisa Índice de Saúde Financeira do Brasileiro, declarados
pela Febraban:
a)
Em
âmbito micro, fazer o diagnóstico individual de saúde financeira, para
identificar lacunas e personalizar estratégias de educação financeira;
b)
Em
âmbito macro, permitir uma análise agregada dos brasileiros, para contribuir no
aperfeiçoamento de políticas públicas e da ação privada em prol da educação
financeira”.
Na pesquisa, o conceito de
saúde financeira é posto da seguinte maneira:
“Ser capaz de cumprir
suas obrigações financeiras correntes e tomar boas decisões financeiras; ter
disciplina e autocontrole para cumprir objetivos; sentir-se seguro quanto ao
futuro financeiro; ter liberdade de fazer escolhas que permitam aproveitar a
vida”.
Segundo a Pesquisa, a
saúde financeira estaria associada a cinco principais dimensões:
Habilidade
financeira (capacidade de tomar decisões financeiras; buscar entender
informações importantes para a vida financeira);
Comportamento
(disciplina e controle; saber cumprir metas; não gastar muito; saber poupar);
Proficiência
financeira (somatória de habilidade e comportamento financeiro);
Liberdade
financeira (ter opções na vida; não se sentir constrito, amarrado, limitado);
Segurança
(capacidade de cumprir as obrigações financeiras; percepção sobre a própria
situação financeira e se ela é fonte de preocupação e estresse na sua vida).(FEBRABAN,
2021)
Para realizar as perguntas do questionário, afirma-se que a Pesquisa partiu
de quatro protocolos internacionais, a saber: Financial Well-Being Scale (CFPB); Skill Scale (CFPB); Financial Health
Score (CFSi); e Financial Capability Score (University of Wisconsin). Em
seguida, realizou-se, numa primeira fase (julho a agosto de 2020) um survey com mais de 500 adultos (acima de
18 anos com relacionamento com o Sistema Financeiro Nacional); em seguida, na
pesquisa de campo da segunda fase (setembro a novembro de 2020), 5.220
entrevistas com adultos de 18 anos ou maisque mantém relacionamento com o
sistema financeiro nacional, sendo que, destes, 4.863
compuseram a amostra ponderada das pessoas que responderam sobre renda
Na pesquisa, os entrevistados são questionados sobre a sua concordancia em
relação a um conjunto de afirmações postas, de modo simétrico (“O quanto esta frase descreve você ou sua
situação atual?”). As respostas são “nada”, “pouco”, “mais ou menos”,
“muito”, ou “totalmente”, a título de exemplo.
Assim, por meio de uma escala do tipo Likert, busca-se medir a posição dos
entrevistados em cada uma daquelas cinco dimensões referidas. Segundo os
elaboradores da pesquisa, as questões poderiam ser lidas para os respondentes
ou ser respondidas via autoaplicação (formulário online).
Pelo método, para cada pergunta corresponde uma determinada pontuação (de
zero a 100). A somátória determina uma faixa de classificação (que vai de
“ruim” à “ótima”).
O questionário que fez parte da pesquisa está reproduzido nos quadros em
anexo.
2. Principais
resultados do I-SFB aplicado entre setembro e novembro de 2020
Apresentamos a seguir os
principais resultados do indicador, a partir de amostra com 4.863 entrevistados pela instituição (Febraban), entre setembro e novembro de 2020.
a) Em uma
pontuação com variação de zero a 100, a média do I-SFB verificada, entre os
entrevistados, foi de 57, sendo que a distribuição dos pesquisados apresentou a
seguinte situação de saúde financeira por faixa:
Distribuição
dos Pesquisados por Faixa de Saúde Financeira
(Brasil,
setembro a novembro 2020)
8,1% |
Ótima |
Vida financeira sem estresse.
Finanças proporcionam segurança e liberdade financeira |
19,2% |
Muito boa |
Domínio do dia a dia, mas
precisa dar o salto do patrimônio |
14,3% |
Boa |
Básico e bem feito |
10,1% |
OK |
Equilíbrio financeiro no limite
– com pouco espaço para erro |
15,6% |
Baixa |
Primeiros sinais de
desequilíbrio e risco de entrar em alto estresse financeiro |
21,1% |
Muito baixa |
Risco de atingir situação
crítica |
11,6% |
Ruim |
Círculo de fragilidade,
estresse e desorganização financeira |
Fonte: Febraban. I-SFB. Quadro
ajustado pelos autores.
I-SFB
por variável geográfica e faixa de saúde financeira
(Brasil,
setembro a novembro 2020)
Faixas de saúde financeira |
|||||||
|
Ótima |
Muito
boa |
Boa |
OK |
Baixa |
Muito
baixa |
Ruim |
Amostra |
8,1% |
19,2% |
14,3% |
10,1% |
15,6% |
21,1% |
11,6% |
|
|
|
|
|
|
|
|
Capital
e RM |
8,1% |
19,1% |
14,9% |
9,6% |
14,9% |
20,3% |
13,2% |
Interiores |
8,0% |
19,4% |
13,9% |
10,4% |
16,2% |
21,7% |
10,4% |
|
|
|
|
|
|
|
|
Sul |
13,1% |
22,2% |
14,2% |
9,4% |
14,4% |
18,2% |
8,4% |
Sudeste |
6,8% |
19,4% |
14,1% |
9,8% |
14,0% |
21,8% |
14,1% |
Centro-Oeste |
7,6% |
21,9% |
14,2% |
9,6% |
16,6% |
19,2% |
10,9% |
Nordeste |
6,0% |
13,3% |
13,8% |
11,9% |
19,8% |
24,1% |
11,0% |
Norte |
6,8% |
18,5% |
17,0% |
9,8% |
15,7% |
22,2% |
10,2% |
Fonte: Febraban. I-SFB. Quadro ajustado pelos autores.
I-SFB
por variável sociodemográfica e faixa de saúde financeira
(Brasil,
setembro a novembro 2020)
Faixas de saúde financeira |
|||||||
|
Ótima |
Muito
boa |
Boa |
OK |
Baixa |
Muito
baixa |
Ruim |
Amostra |
8,1% |
19,2% |
14,3% |
10,1% |
15,6% |
21,1% |
11,6% |
|
|
|
|
|
|
|
|
Homem |
10,1% |
21,3% |
15,2% |
10,2% |
16,1% |
18,8% |
8,3% |
Mulher |
5,9% |
17,2% |
13,4% |
9,9% |
15,1% |
23,4% |
15,1% |
|
|
|
|
|
|
|
|
18
a 24 anos |
6,6% |
18,2% |
18,4% |
11,7% |
20,8% |
16,9% |
7,4% |
25
a 29 anos |
6,9% |
17,8% |
13,5% |
11,1% |
16,7% |
21,0% |
12,9% |
30
a 34 anos |
7,7% |
18,3% |
14,5% |
10,8% |
14,6% |
21,6% |
12,5% |
35
a 39 anos |
8,3% |
19,5% |
12,3% |
8,8% |
15,8% |
22,1% |
13,2% |
40
a 59 anos |
8,5% |
19,2% |
13,9% |
9,3% |
13,1% |
22,8% |
13,2% |
60
anos ou mais |
9,7% |
21,7% |
13,6% |
9,2% |
13,9% |
21,5% |
10,4% |
Fonte: Febraban. I-SFB. Quadro ajustado pelos autores.
A pesquisa apresentou os
seguintes resultados agregados:
i) 69,4% empatam ou gastam mais
do que ganham;
ii) 65,7% pensam bastante antes
de gastar dinheiro;
iii) Apenas 21,9% dariam conta de
uma despesa inesperada grande;
iv) 58,4% afirmam que de alguma
maneira isso reflete na vida familiar;
v) Para 53,5%, compromissos
financeiros reduziram o padrão de vida;
vi) Poucos (34,1%) se sentem
capazes de reconhecer um bom investimento;
vii) Somente 37,9% conseguem
perceber que precisam buscar orientação;
viii) 64,7% não têm segurança
sobre seu futuro financeiro; e, por fim,
ix) 6 em
cada 10 consideram que a maneira como cuidam de suas finanças não os permite
aproveitar a vida.
Com base
nestes números, o relatório da Pesquisa conclui que:
O padrão das respostas revela pessoas que lutam por uma vida financeira
estruturada, para fechar as contas do mês e a difícil missão que é ter reservas
para emergências (FEBRABAN, I-SFB, 2021).
3. Considerações críticas preliminares sobre a
Pesquisa Febraban “Índice de Saúde Financeira do Brasileiro (I-SFB)”
Antes de tecer comentários
sobre a Pesquisa Febraban “Índice de Saúde Financeira do Brasileiro (I-SFB),
cabe iniciar recuperando a forma como por CONCEIÇÃO, MACHADO & YAMAUCHI
(2020) analisaram outra pesquisa da mesma entidade, a Pesquisa Febraban de
Tecnologia, realizada anualmente. A referida Pesquisa tem o objetivo de mapear
o estágio da tecnologia bancária no Brasil e suas tendências. Nas palavras dos
referidos autores:
Pesquisas periódicas sobre
processos econômicos e sociais do Brasil têm uma importância grande, em face de
ainda serem escassas as estatísticas em muitas das áreas vitais para o
desenvolvimento do País. Levantamentos sistemáticos e regulares permitem construir
séries mais longas e aprofundar o conhecimento sobre os fatores estruturais e
conjunturais que influenciam na evolução nacional e, com isto, na confecção e
execução de políticas públicas e privadas adequadas. Neste sentido, a Pesquisa
Febraban de Tecnologia, feita anualmente pela Federação Nacional de Bancos
(Febraban), com os principais bancos que operam no País, tem o evidente mérito
de contribuir com relevantes indicadores a respeito do desenvolvimento
tecnológico das instituições financeiras
e das formas como ocorrem as movimentações bancárias por parte dos clientes,
sejam eles pessoas físicas ou jurídicas
(...). [Entretanto], um problema inerente às pesquisas dessa natureza
reside na dificuldade em se realizaro devido distanciamento entre, por um lado,
o levantamento dos dados e a leitura analítica dos resultados, e, por outro, os
interesses e a estratégia da entidade empresarial que financia a pesquisa.
Esta colocação
feita pelos autores parece servir também para a Pesquisa “Índice
de Saúde Financeira do Brasileiro (I-SFB), tendo em vista as considerações a seguir.
1. A princípio, a Pesquisa
I-SFB-Febraban não deixa claro que universo efetivamente a amostra representa:
a população brasileira? Todos os clientes dos bancos? Alguns segmentos específicos
de seus clientes capazes de realizar investimentos? Isto em nenhum momento fica
bem estabelecido, em que pese o próprio título da pesquisa sugerir que o índice
serve para medir as condições financeiras “do brasileiro”. Portanto, uma média
da população brasileira total. Contudo, a pesquisa menciona, tão-somente, que
os entrevistados são pessoas com mais de 18 anos “que mantém relacionamento com o sistema financeiro nacional”.
Sabe-se, porém, que existem milhões de brasileiros e brasileiras que não possuem
conta bancária. Estariam estas pessoas excluídas do universo da pesquisa?
2. A base financeira dos
entrevistados é citada na metodologia e mensurada no questionário, porém, não
há qualquer cruzamento de resultados. O
cruzamento observado nos resultados divulgados ocorre entre situação financeiraelocalização geográfica, gênero e idade. Desta forma, não se extraiu das
respostas ao questionário o índice de saúde financeira por faixa de renda
familiar. Para um índice que trata da “saúde financeira” do brasileiro isto é
uma lacuna grave na divulgação pública.
3. Quanto
aos protocolos internacionais que serviram de referência para a construção do
questionário- Financial Well-Being Scale
(CFPB); Skill Scale (CFPB); Financial Health Score (CFSi); e Financial
Capability Score (University of Wisconsin) – e, por
conseguinte, do índice, pode-se dizer que estes protocolos buscam avaliar a
capacidade ou as habilidades dos respondentes em gerirem suas finanças em prol
da geração de seu bem-estar financeiro. Portanto, eles não definem um índice
que avalia a situação (ou “saúde”) financeira, em si, da população. Tão pouco,
eles visam generalizar resultados ou orientações. Os pesquisadores do CFPB, por
exemplo, desenvolveram o questionário e a forma de pontuá-lo, com o intuito de
fornecer uma ferramenta que ajude os respondentes a medirem seu bem-estar
financeiro atual, apontando o quanto sua situação atual fornecerá segurança
financeira e liberdade de escolha, hoje e no futuro. Trata-se, portanto, de
avaliações e apontamentos individuais.
4. Cabe também a seguinte
pergunta: o uso do método da Escala Likert -
que é bastante utilizada, por exemplo, por equipes de marketing em pesquisas de
coleta de opinião –seria o mais adequado para captar a realidade de tema tão
sensível à vida da população, como é o caso da situação financeira individual e
familiar? Veja-se, por exemplo, um comentário geral sobre a Escala Likert:
Existem vantagens no uso da escala (...). Os aspectos inconvenientes são
a dificuldade da empresa em trabalhar com itens neutros, como “indiferentes”.
Neste caso, a resposta oferece poucas informações aplicáveis de maneira
prática. Além disso, os indivíduos que preenchem o questionário possuem uma tendência
em facilmente concordar com as declarações, sem, muitas vezes, analisar os seus
sentimentos em relação à questão. Pode existir uma espécie de automatismo e
impulsividade da resposta (fonte:
mindminers.com/blog/entenda-o-que-e-escala-likert).
Assim,
tome-se, por exemplo, uma das afirmações que constam do questionário: “Eu sei gerenciar meus gastos”. Evidentemente,
a afirmação, como está colocada, mexe com a sensibilidade e a vaidade do (a)
respondente. É muito difícil para qualquer pessoa admitir que gerencie mal os
seus gastos.
5. Uma
pessoa de baixa renda pode, pelo indicador, ser considerada incapaz de cumprir
suas obrigações; incapaz de tomar decisões; ter pouca disciplina e
autocontrole; sentir-se insegura quanto ao futuro; e não conseguir fazer
escolhas que a permitam aproveitar a vida. Portanto, esta pessoa provavelmente
terá uma baixíssima pontuação no seu Índice de Saúde Financeira. No entanto,
cabe aqui uma questão: isto garante que esta pessoa seja uma má gestora de suas
finanças pessoais? A educação financeira, neste caso, resolverá o problema na
raiz, que reside no baixo patamar da renda da maioria dos brasileiros?
6. A pesquisa não faz alusão ao contexto social do país, para mensurar a
“saúde financeira” do brasileiro. Deve-se considerar que parcela importante da
população depende de projetos sociais para sobreviver. Por exemplo, o Programa
Bolsa Família, o que implica receber uma renda abaixo do salário mínimo. Mesmo
quem vive com salário mínimo possui pouca margem para gastos além daqueles
estritamente necessários, como alimentação, medicamentos, roupas, e, em muitos
casos, pagamento de aluguel. Além disso, há um número expressivo de pessoas desempregadas,
ou vivendo na informalidade. Some-se a isso, a precarização do trabalho (com
impacto na renda), sobretudo desde a Reforma Trabalhista em 2017.
Esta população faz parte do conjunto de entrevistados? Tal informação
seria importante para que pudéssemos, a partir de cruzamento de dados, melhor
avaliar o resultado da pesquisa. Podemos simplesmente imputar à população, que
gasta mais do recebe, uma má gestão ou falta de habilidade financeira ou é
necessário fazer uma relação disto com a má distribuição de renda, com os
baixos salários, com o desemprego, com a precarização do trabalho?
Nesse sentido, a pesquisa estabelece uma “simplificação” na discussão
sobre a “saúde financeira” dos brasileiros, atribuindo o problema à má gestão
(individual) do dinheiro sem levar em consideração a questão da má distribuição
de renda.
7. Não há
afirmações mais específicas sobre endividamento da pessoa: Nem sobre as
motivações que levaram ao endividamento, ou mesmo quanto aos meios do
endividamento, dentre eles, o cheque especial, o crédito consignado, o empréstimo
pessoal ou junto a uma financeira; a agiotagem, entre outros.
8.
Algumas perguntas feitas pelo questionário não aparecem nos resultados públicos
da pesquisa. Entre elas, por exemplo:
“Qual dos produtos e serviços que eu vou ler agora você tem? Conta corrente; financiamento;
títulos; previdência etc”.
9. Em função dos problemas
metodológicos já citados, os resultados percentuais encontradosparecem não
refletir a realidade da “saúde financeira dos brasileiros” como um todo. A
média de 57 (numa pontuação que varia de zero a 100) para a população
brasileira parece excessivamente alta em face do que vivenciamos empiricamente
e de outros indicadores disponíveis (como índice de pobreza absoluta,
inadimplência, entre outros).
10. O próprio papel das
instituições financeiras, como promotoras do superendividamento, não é colocado
em nenhuma das afirmações do questionário. Sabemos que as instituições
financeiras não são passivas no processo.
11. Entre os objetivos não explicitados da
Febraban com a pesquisa estão:
a)
Melhorar a imagem dos
bancos.
b)
Atender parcialmente à Lei
nº 14.181/2021, conhecida como “Lei do Superendividamento”, que buscou
aperfeiçoar a disciplina do crédito ao consumidor e “dispõe sobre a prevenção e
o tratamento do superendividamento”. A Lei, entre outras medidas, promove a
inclusão, no Código de Defesa ao Consumidor (CDC), do “fomento de ações
direcionadas à educação financeira e ambiental dos consumidores” (...); a
instituição de mecanismos de prevenção e tratamento extrajudicial e judicial do
superendividamento e de proteção do consumidor (...)”; e osnúcleos de conciliação e mediação de conflitos oriundos
de superendividamento”. A Lei estabelece que as empresas que fornecem o crédito
passam a ser corresponsáveis
pela concessão do crédito.
c)
Tirar o foco sobre os elevados
spreads bancários e jogar o problema
na gestão dos próprios indivíduos e famílias.
d)
Mostrar que a saúde
financeira dos brasileiros é um problema, mas não tão grande; por conseguinte,
há margens para aumentar o crédito individual e familiar(“I- SFB é bom; está em
bom patamar”).
e)
Estimular a previdência
complementar.
f)
Reforçar, como “senso
comum”, que o problema financeiro do brasileiro não está em sua “baixa renda”
(baixos salários, falta de direitos), mas na falta de habilidade de gerir o que
ganha.
12. Registre-se
que, em que pese o sabido impacto da pandemia do coronavírus na vida financeira
das famílias, a crise sanitária não é mencionada hora alguma na pesquisa, o que
gera grande surpresa ao ler o questionário e os resultados divulgados.
Cumpre, ao final,
reafirmar a importancia de realização de pesquisas a respeito de assuntos
importantes da vida dos indivíduos e famílias, como é o caso de sua saúde financeira.
De fato, estes indicadores podem contribuir como orientadores de políticas públicas
e privadas, e de programas educacionais que orientem a boa gestão individual e
familiar dos recursos financeiros, a formação de uma cultura de poupança e o
estímulo a investimentos financeiros. No entanto, é essencial que os interesses
das entidades promotoras de pesquisas não se misturem com o rigor necessário na
metodologia das mesmas pesquisas.
Referências Bibliográficas
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Jefferson José da; MACHADO, Vivian; YAMAUCHI, Gisele. Comentários à pesquisa
Febraban de tecnologia bancária. In: CONCEIÇÃO, Jefferson José da; NORONHA,
Cláudio Pereira. A era digital e o
trabalho bancário: o papel do sistema financeiro e subsídios à ação
sindical e às políticas públicas. Santo André: Coopacesso, 2020. 465 p.
FEDERAÇÃO
BRASILEIRA DE BANCOS (FEBRABAN). Índice de Saúde Financeira do Brasileiro
(I-SFB). Disponível em: https://indice.febraban.org.br/ . Acesso em: 4 ago.
2021
FEDERAÇÃO
BRASILEIRA DE BANCOS (FEBRABAN). Manual de uso da metodologia do I-SFB. Disponível
em: https://indice.febraban.org.br/ . Acesso em: 4 ago. 2021
FERNANDES, Daniel; LYNCH JR, John G.; NETEMEYER, Richard G. Financial
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https://pefmbddiag.blob.core.windows.net/cdn/downloads/I-SFB_Manual_Metodologico.pdf.
Acesso em: 4 ago. 2021
KAISER, Tim; MENKHOFF, Lukas. Does financial education impact financial
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n. 3, p. 611-630, 2017.
Likert. O Número de Itens e a Disposição Influenciam nos Resultados?.Artigo
apresentado no XXX11 Encontro da ANPAD (Associação Nacional de Pós Graduação e
Pesquisa em Administração). Rio de Janeiro-RJ: 6 a 10 de setembro de 2008.
LUCCI,
Cintia Retzet al. A influência da educação financeira nas decisões de consumo e
investimento dos indivíduos. Seminário
em Administração, v. 9, 2006.
LUSARDI, Annamaria. Saving and the effectiveness of financial
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MATTA, Rodrigo Octávio Beton.
Oferta e demanda de informação financeira pessoal: o Programa de Educação
Financeira do Banco Central do Brasil e os universitários do Distrito Federal.
2007
SAVOIA, José Roberto Ferreira;
SAITO, André Taue; SANTANA, Flávia de Angelis. Paradigmas da educação
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VIEIRA,
Kelmara M.; DALMORO, Marlon. Dilemas na Construção de Escalas Tipo Likert: o
Número de Itens e a Disposição Influenciam nos Resultados? Artigo apresentado
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VIEIRA, Saulo Fabiano Amancio;
BATAGLIA, Regiane Tardiolle Manfre; SEREIA, Vanderlei José. Educação financeira
e decisões de consumo, investimento e poupança: uma análise dos alunos de uma
universidade pública do norte do Paraná. Revista de Administração Unimep, v. 9, n. 3, p. 61-86, 2011
WALSTAD, William B.; REBECK, Ken; MACDONALD, Richard A.The effects of
financial education on the financial knowledge of high school students. JournalofconsumerAffairs, v. 44,
n. 2, p. 336-357, 2010.
ANEXO
Nos últimos 12
meses, qual frase melhor descreve a comparação entre a renda total e os gastos
na sua casa?
|
Os gastos foram muito maiores que a renda |
Os gastos foram um pouco maiores que a renda |
Os gastos foram mais ou menos iguais a renda |
Os gastos foram um pouco menor que a
renda |
Os gastos foram muito menores que a
renda |
Nos últimos 12 meses, qual frase melhor descreve a comparação entre a
renda total e os gastos na sua casa? |
|
|
|
|
|
Fonte: Febraban. I-SFB.
O
QUANTO ESTA FRASE DESCREVE VOCÊ OU SUA SITUAÇÃO? |
NADA |
POUCO |
MAIS OU MENOS |
MUITO |
TOTALMENTE |
O
quanto esta frase descreve você ou sua situação? |
Nada |
Pouco |
Mais ou menos |
Muito |
Totalmente |
Preocupações
com as despesas e compromissos financeiros são motivo de estresse na minha
casa. |
|
|
|
|
|
Por
causa dos compromissos financeiros assumidos, o padrão de vida da minha casa
foi bastante reduzido. |
|
|
|
|
|
Estou
apertado (a) financeiramente. |
|
|
|
|
|
Eu
sei tomar decisões financeiras complicadas. |
|
|
|
|
|
Eu
sou capaz de reconhecer um bom investimento. |
|
|
|
|
|
Eu
sei me informar para tomar decisões financeiras. |
|
|
|
|
|
Eu
sei como me controlar para não gastar muito. |
|
|
|
|
|
Eu
sei como me obrigar a poupar. |
|
|
|
|
|
Eu
sei como me obrigar a cumprir metas financeiras. |
|
|
|
|
|
Estou
garantindo meu futuro financeiro. |
|
|
|
|
|
O
jeito que eu cuido do meu dinheiro me permite aproveitar a vida |
|
|
|
|
|
Fonte: Febraban. I-SFB.
HOJE
QUAIS DOS PRODUTOS E SERVIÇOS QUE EU VOU LER AGORA VOCÊ (OU ALGUÉM NA SUA
CASA) TEM? MARQUE AS OPÇÕES ABAIXO: |
|
o Conta
Corrente |
o Previdência
privada |
o Cartão
de crédito |
o Financiamento
de veículo (carro, moto, caminhão etc) |
o Seguro
de casa |
o Título
de capitalização |
o Poupança |
o Seguro
saúde / convenio |
o Cartão
de débito |
o Financiamento
estudantil |
o Financiamento
de imóvel |
o Consórcio |
o Investimento
(ações, fundos ou títulos) |
o Seguro
de carro |
o Agora
conte o número de opções marcadas ( ) |
|
Fonte: Febraban. I-SFB.
|
NENHUM
PRODUTO |
1 OU 2
PRODUTOS |
ENTRE 3
E 5 PRODUTOS |
ENTRE 6
E 8 PRODUTOS |
9
PRODUTOS |
Quantos
produtos você assinalou na pergunta anterior? |
o
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o
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o
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o
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o
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Fonte: Febraban. I-SFB.
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ATÉ R$
1.045 |
DE R$
1.046 ATÉ R$ 2.090 |
DE R$ 2.091
ATÉ R$ 3.135 |
DE R$
3.136 ATÉ R$ 5.225 |
De R$
5.226 ATÉ R$ 10.450 |
DE R$
10.451 ATÉ R$ 20.500 |
ACIMA
DE R$ 20.500 |
Por
favor, poderia me dizer qual é, aproximadamente, a RENDA TOTAL por mês
incluindo todos os membros de sua família? |
o
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o
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o
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o
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o
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o
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o
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Fonte:
Febraban. I-SFB.
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ANALFABETO
/ FUNDAMENTAL 1 INCOMPLETO |
FUND.1
COMPLETO FUNDAMENTAL 2 INCOMPLETO |
MÉDIO
COMPLETO / SUPERIOR INCOMPLETO |
SUPERIOR
COMPLETO |
PÓS
GRADUAÇÃO COMPLETA |
Qual éo
seu grau de instrução? |
o
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o
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o
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o
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o
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Fonte: Febraban. I-SFB.
[1]Ana
Carolina Tosetti Davanço.
Mestranda em Administração pela USCS. Especialista em Gestão Pública pela
Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Possui Graduação em
Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
[2]Claudio Pereira Noronha. Graduação em Administração de Empresas
(Centro Universitário Fundação Santo André); Pós-graduação (Lato sensu) em
Globalização e Cultura (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo);
mestrado e doutorado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de SP;
assessor do Sindicato dos Bancários do ABC.
[3]Jefferson José da Conceição. Coordenador do Observatório CONJUSCS. Graduado em Economia pela UFRJ;
Mestre em Administração pelo IMES; Doutor em Sociologia pela USP. Assessor da Pró-Reitoria
de Graduação e Professor da USCS. Blog: www.blogdojeff.com.br. Autor do livro
"Entre a mão invisível e o Leviatã: contribuições heterodoxas à economia
brasileira". Editora Didakt, 2019 (407 págs.). Disponível em
www.estantevirtual.com.br.
[4]Vívian
Machado. Economista. Mestre em Economia Política pela PUC-SP. Atualmente,
técnica do DIEESE, assessorando a Subseção da Confederação Nacional dos
Trabalhadores do Ramo Financeiro (CONTRAF-CUT) e colaboradora do Observatório CONJUSCS.
* Artigo originalmente publicado na 18ª Carta de Conjuntura da USCS, publicada em agosto de 2021, e disponível na íntegra em https://www.uscs.edu.br/noticias/cartasconjuscs