31/01/2014 - ARTIGO
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Por: Jefferson Conceição *
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São benvindas as reflexões, mas, para isto, é necessária uma leitura
precisa do passado
Em 1995, quando da visita do então presidente da República Fernando
Henrique à fábrica da Ford em São Bernardo, uma faixa dizia: “FHC não rima
com o ABC”. FHC, nos próximos dias, vem à Região, para palestrar sobre o
futuro do Grande ABCD. São benvindas as reflexões, mas, para isto, é
necessária uma leitura precisa do passado. Ironicamente, as gestões FHC (de
1994 a 2002) representaram alguns dos mais duros anos da história da região,
em sua fase recente. Tratei disto em meu livro “Quando o Apito da Fábrica
Silencia”, editora ABCDMaior (2008).
Em discurso da época, FHC apontou seu foco: “o primeiro problema é a
inflação; o segundo é a inflação; o terceiro é a inflação”. Para alcançar a
estabilização, seu governo criou uma nova moeda (o Real); inflou os juros
reais; sobrevalorizou o câmbio (entre 1994 e 1998); contraiu os
investimentos; aumentou e criou impostos e contribuições; privatizou; abriu o
País de forma acelerada às importações.
Não se questiona a importância do Plano Real e da redução da inflação,
mas a ausência de políticas de salvaguarda em relação ao setor produtivo, bem
como de efetivas políticas sociais compensatórias. Elas eram essenciais, pois
as políticas “asfixiaram” a produção. Resultado: após décadas de grandes
superávits na balança comercial (exportações menos importações), o Brasil
conviveu com déficits seguidos entre 1995 e 2000.
Para o Grande ABCD, o quadro foi pior: além do já exposto, a Região
sofreu também com: a) o “Novo Regime Automotivo”, decretado por FHC em 1995 -
que reduziu pela metade as tarifas de importações sobre veículos e baixou
para quase zero a tarifa sobre as autopeças (2,4%) e máquinas e equipamentos;
b) o apoio tácito do Governo Federal à Guerra Fiscal entre Estados e
Municípios; c) o fim das Câmaras Setoriais, espaço de diálogo e negociação,
criado ao final de 1991. Somados, isto equivaleu a uma “bomba” sobre a
Região: pela RAIS, o nº de empregos formais na indústria da região, entre
1994 e 2002, caiu de 274 mil para 193 mil (corte de 81 mil postos!). Na
Pesquisa “O ABC no Olho do Furacão”, mostrei que, na década de 1990, somente
no segmento das autopeças, foram fechadas 42 fábricas na região!
Na Gazeta Mercantil, de 15/10/1999, FHC reconhecia: “O ABC foi
realmente a área mais sofrida com as transformações ocorridas no Brasil (...)
porque a área urbana metropolitana não pode ter mais industrias. Há uma
desindustrialização, que cria (...) desemprego. Apesar disso, se você vai a
S.Caetano, verá um progresso imenso com universidades etc. Mesmo em S.
Bernardo, o setor de serviços cresce, mas o setor industrial está espremido.
Isso é um pouco Detroit (...) A região metropolitana vai ter que se
transformar num grande polo de serviços. São Paulo, hoje, tem 6 ou 7 grandes
salas de espetáculos. É como Nova York”.
Com efeito, a Região ganhou uma importante universidade pública, que
foi a UFABC, mas isto graças ao Governo Lula, que determinou a sua criação em
2005. E, após os dramáticos anos1990, voltou a crescer, mas não devido às
casas de espetáculos, e sim graças às políticas ativas em favor da atividade
produtiva e da geração de empregos, acionadas pelo Governo Lula, e depois por
Dilma. Políticas estas que fizeram até mesmo a fábrica da Ford – então
ameaçada de fechamento na década de 1990- receber recentemente robustos
investimentos.
*Jefferson Conceição é secretário
de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de São Bernardo.
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