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terça-feira, 29 de abril de 2014

A carta da ferramentaria para o governo federal


29/04/2014 - ARTIGO
 
Por: Jefferson Conceição (jefferson.jose@saobernardo.sp.gov.br)

 

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Agentes querem medidas para reforçar setor automotivo

A reunião do APL (Arranjo Produtivo Local) de Ferramentaria do ABCD de 25 de abril estava programada para discutir temas estruturais sobre os quais o APL têm se debruçado, como o Centro de Desenvolvimento em Ferramentaria do Brasil, a linha de financiamento para o segmento e o Pronatec – todos alinhados com o InovarAuto e o Plano Brasil Maior, do governo federal. Mas a preocupação com a conjuntura do setor automotivo – queda de vendas internas, expansão dos saldos negativos na balança comercial, férias coletivas, anúncio de layoffs, suspensão de contratações, anúncio de demissões – norteou a reunião.

Estiveram presentes empresários e membros da coordenação do arranjo como Agência de Desenvolvimento Econômico; Sindicato dos Metalúrgicos do ABC; Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá; Instituto Mauá de Tecnologia; Abinfer; Abimaq e Prefeitura de São Bernardo.

Os membros do APL decidiram reforçar o pleito recentemente apresentado ao governo pelos representantes sindicais, que aponta para a necessidade de incentivos emergenciais relacionados aos tributos internos sobre o consumo de veículos e para a constituição de linhas de financiamento que aumentem a liquidez para as vendas de automóveis e caminhões. O APL decidiu elaborar uma carta, a ser enviada ao governo, com propostas adicionais.

A primeira das propostas é a redução da participação de insumos, peças, moldes e ferramentais importados para a produção de veículos, no montante de pelo menos 15%, por meio de mecanismos que, no âmbito das normas da OMC, aumentem a tributação dos importados. Registre-se que os déficits das balanças comerciais, em 2013, dos segmentos de autopeças e de máquinas e equipamentos foram superiores a, respectivamente, US$ 13 bilhões e US$ 20 bilhões.

A carta propõe a manutenção do nível de emprego na cadeia automotiva, que representa importante compromisso das empresas do APL com o diálogo e com a continuidade do crescimento do País. O APL solicita ao governo que, associado aos incentivos emergenciais discutidos no segmento de veículos básicos, cobre compromisso das montadoras com a redução dos preços dos veículos.

Reivindicam-se também a adequação técnica dos “Cadernos de Encargos” das montadoras; e a aceleração, pelo BNDES, da linha de financiamento para a cadeia de ferramentaria.

Há também propostas na área de P&D: a) apoio financeiro das montadoras a Projetos de P&D “externos” a elas, como o já mencionado Centro de Desenvolvimento em Ferramentaria, apresentado pelo APL; b) compromisso das montadoras em contratar e executar, no mercado nacional, gastos de P&D em projetos, simulação computacional e desenvolvimento de moldes e ferramental e gastos de Tecnologia Industrial de Base (TIB) na construção de meios de produção para conformação e injeção; c) compromisso das montadoras e sistemistas na execução de projetos de melhoria de competitividade e capacitação da cadeia de fornecedores nacionais, em conjunto com instituições de ensino e pesquisas.
*Jefferson Conceição é secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de São Bernardo.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Salário mínimo: duas visões





24/04/2014 - ARTIGO

 

Por: Jeferson José da Conceição (jefferson.jose@saobernardo.sp.gov.br)

 




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Valorização do salário mínimo não afetou contas públicas


Em 1994, o SM (Salário Mínimo) atingiu um dos seus patamares mais baixos: correspondeu a apenas 25% do poder de compra que tinha em 1940, quando foi criado. O SM sofreu uma pequena recuperação no governo FHC, mas ainda atingia em 2002 menos de 1/3 do seu poder de compra de 1940.

A recuperação forte se deu a partir dos governos Lula e Dilma. Entre 2003 e 2014, o SM teve aumento real de 72,3% acima da inflação. Neste período, estabeleceu-se a PVSM (Política de Valorização do Salário Mínimo), recentemente elogiada em relatório da OIT.

Registre-se o papel fundamental que teve o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, para a construção da PVSM. Em 2004, Marinho era o presidente da CUT, que elaborou a proposta de negociação de longo prazo e realizou a 1ª Marcha Nacional pelo SM.

Já como ministro do Trabalho, Marinho, em 2005, conduziu as negociações que resultaram na fixação do SM em 2006. Em 2007, o governo Lula adotou critérios de longo prazo para o SM. A PVSM garante ao piso reajuste anual correspondente à inflação do ano anterior acrescido da variação do PIB de dois anos anteriores, portanto contínuo aumento real para o SM. Entre 2005 e 2014, o aumento real do SM foi de 5,4% ao ano, em média.

Ao contrário do que apregoavam os alarmistas, a PVSM não “explodiu” as contas públicas, não causou inflação e não comprometeu a competitividade industrial. Ao contrário, seus efeitos positivos difundiram-se por toda a economia: aumento da massa salarial, distribuição de renda, elevação do consumo, geração de empregos e dinamização das regiões mais pobres e aumento da arrecadação (o Dieese estima em cerca de R$ 13 bilhões a arrecadação sobre o consumo somente com o aumento do SM). No Brasil, 48 milhões de pessoas vivem diretamente do SM.

A PVSM foi acordada em 2007 entre o governo federal e as centrais sindicais para valer até 2023. A intenção é aproximar o SM (atualmente em R$ 724,00) do valor necessário para garantir a sobrevivência do trabalhador e sua família, conforme prega a Constituição Federal, calculado pelo Dieese em R$ 2.992,00, aos preços de 2014.

Mas a PVSM está em risco. Há os que insistem em não reconhecê-la como peça do desenvolvimento. Um exemplo é a declaração recente do economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e um dos principais cotados para assumir o Ministério da Fazenda, na hipótese de vitória do principal candidato de oposição ao governo Dilma. Fraga disse no jornal O Estado de São Paulo: “O SM está muito alto (...). O SM cresceu muito ao longo dos anos. O salário em geral precisa guardar alguma proporção com a produtividade, sob pena de, em algum momento, engessar o mercado de trabalho”.

Portanto, nas próximas eleições presidenciais estão em jogo duas visões bem distintas de gestão da economia brasileira. A primeira, a que considera a PVSM como parte essencial do tripé inclusão-crescimento do mercado interno-geração de empregos. A outra é a que vê a PVSM como ação contrária à austeridade fiscal, geradora de inflação e redutora da competitividade nacional.

*Jefferson Conceição é secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho