Jefferson José da Conceição
Carlos Alberto Gonçalves (Krica)
O anúncio de 800 demissões
neste início de 2015 recoloca o desafio para que a Volkswagen e o Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC cheguem a solução que possibilite reverter as demissões. A
história permite otimismo. As inovações nas relações de trabalho é uma das
marcas da Volks dos trabalhadores em São Bernardo. Via de regra, a redução de
postos, desde a reestruturação dos anos 1990, não ocorreu por meio das
demissões arbitrárias. Em 1979, eram 43 mil os trabalhadores diretos na fábrica
Anchieta; em 2006, 12,8 mil. A partir daí o emprego voltou a crescer, alcançando
15,2 mil em 2013.
Para enfrentar o desafio da
preservação dos empregos, foram necessárias inovações. A Comissão de Representantes
dos Empregados é criada em 1980, para administrar as relações entre capital e
trabalho. O sindicato, que tinha Lula como presidente, foi contra a comissão,
pois a considerava “chapa branca”.
Já reconhecida pelo sindicato,
a comissão, em 1982, prioriza “as novas tecnologias” e faz a primeira manifestação contra o desemprego gerado pela
automação e os Círculos de Controle da Qualidade. Conquista, em 1985, o direito
à informação prévia sobre projetos de
mudanças organizacionais e tecnológicas.
Com a criação da Autolatina
(fusão Volks e Ford), em 1987, o sindicato mobiliza pela manutenção dos postos
em ambas as unidades. Sindicato e Comissão, em 1991, negociam com a direção da
Volks acordo pioneiro que estabelece o direito à informação e à negociação
prévia sobre terceirização.
Os Sindicatos (ABC e
Taubaté) mobilizaram-se em 1997, diante da ameaça de dez mil demissões na
Volks. A Volks aceitou garantir o emprego por um ano e realizar investimento em
um novo produto (PQ24). Em contrapartida, aumentou-se a flexibilização da
jornada; reduziu-se o adicional noturno; criou-se o banco de dias; abriu-se o
PDV. Nova ameaça (7,5 mil demissões) é encarada em 1998. Os sindicatos voltam a
se mobilizar e evitam as demissões.
Luiz Marinho, então
presidente do Sindicato (hoje prefeito), foi um dos líderes da negociação que,
em 2001, reverteu 3 mil demissões e garantiu estabilidade aos funcionários por
cinco anos.
O mercado automotivo voltou a
crescer nos governos Lula e Dilma. A Volks, em 2013, anunciou decisões de
investimentos e expansão do emprego. A recente crise de produção e vendas no setor,
combinada com a saída de antigos modelos (como a Kombi e o Gol Geração 4),
levaram a Volks à intenção atual de reestruturação. Para reverter as demissões,
é necessário que, além de inovações nas relações - como a aplicação do sistema
de proteção ao emprego defendido pelo sindicato -, retome-se um amplo diálogo
sobre a política industrial para o setor. Entre outros, cabe discutir: 1) o
aprofundamento e conclusão do Inovarauto; 2) novos incentivos ao consumo
interno (financiamento e tributos) e às exportações; 3) conclusão e
implementação do Modermaq e do Programa de Renovação e Reciclagem da Frota
(caminhões; veículos de passeio).
Jefferson Conceição é
secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de São Bernardo e
Carlos Alberto Gonçalves(Krica) é Secretário Adjunto de Desenvolvimento
Econômico, Trabalho e Turismo de São Bernardo do Campo
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