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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Novo processo de substituição de importação


  27 de novembro de 2014

opinião


Uma parte dos problemas da economia brasileira hoje reside em seu comércio exterior. Entre 2002   2011, os números foram bastante favoráveis à produção e ao emprego. As exportações foram elevadas e saltaram de US$ 60,4 bilhões para US$ 256 bilhões. As importações também aumentaram: de US$ 47,2 bilhões para US$ 226 bilhões. Mas os saldos da balança (exportações menos importações) foram crescentes, passando de US$ 13,2 bilhões para US$ 29,8 bilhões. Vendemos e compramos muito do exterior; vendemos mais do que compramos. Os “anos dourados”

foram de 2004 a 2007, quando atingimos grandes superávits, que oscilaram entre US$ 34 bilhões e US$ 46,5 bilhões. Entretanto, entre 2012 e 2014, os números foram ruins: as exportações caíram de US$ 256 bilhões (2011) para cerca de US$ 230 bilhões em 2014 (estimativa). As importações  aumentaram de US$ 226 bilhões para US$ 232 bilhões em 2014 (estimativa).  Em 2013, tivemos apenas um pequeno superávit na balança, de US$ 2,6 bilhões. Em 2014, é provável que tenhamos déficit ou que repitamos o saldo ínfimo. Isto se deveu à desaceleração do comércio internacional e à

valorização do real frente ao dólar.

 

Defendo um novo PSI (Processo de Substituição de Importações) no Brasil. “Novo” porque a industrialização brasileira, entre 1930 e 1980, foi fortemente marcada pelo PSI. O país fez a política “do limão à limonada” com as crises na balança comercial: a cada crise, uma nova etapa do PSI impelia a troca de bens importados pela produção doméstica. Primeiro (1930-1950), a substituição de importações de bens de consumo não duráveis (alimentos, calçados, vestuário, etc) e de parte

da produção de insumos básicos (matérias primas); depois, a de bens de consumo de consumo duráveis (1955- 1974); por último (a partir de 1975), a substituição definitiva dos insumos básicos e de parte de bens de capital (não seriados). Mesmo com todos os problemas (qualidade, custo, competitividade), tratou-se de uma política exitosa. Passamos a ter uma estrutura industrial, onde antes tínhamos apenas um conjunto de grandes fazendas de café.

 

Novo também, porque, diferentemente do anterior, o PSI agora deve ser acompanhado de um forte arranque nas exportações. Para isto, é necessário um elevado volume de importações. A corrente de comércio (exportações mais importações) deve ser alta. Os saldos comerciais devem ser

crescentes e se transformar em metas de governo. É essencial uma política de comércio exterior que, além de desvalorizar o câmbio, possibilite um sinal claro de que queremos incrementar nossas exportações. A substituição de importações deve ser igualmente meta de governo, especialmente naqueles itens de maior valor agregado: produtos químicos, eletroeletrônicos e peças e componentes. É fundamental que os programas de governo ligados a investimentos em petróleo e gás, defesa e saúde recoloquem com ênfase temas como índices de nacionalização crescentes.

Esta obrigatoriedade deve estar complementada por ações que incentivem os empresários a buscarem a nacionalização: financiamento; desonerações tributárias; incorporação de tecnologias

mais avançadas; qualificação profissional; garantia de encomendas governamentais, entre outras.

 

O PSI nas áreas de alta densidade tecnológica não é tarefa simples. É tarefa para décadas. Mas é preciso começar. Ou melhor: dar continuidade às políticas já executadas no Brasil no século 20, com um formato moderno adequado ao século 21.

 

*Jefferson Conceição é secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de São Bernardo.

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