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terça-feira, 29 de julho de 2014

Entrevista ao Portal InovaABCD

  • Entrevista ao Portal InovaABC, disponíel em http://revinova.com.br/portal/blog/editor/o-abcd-pronto-para-decolar

  • O ABCD pronto para decolar
  • 29/07/2014 08:39


  • POR: CARLOS CAROLINO

    Jefferson José da Conceição é secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo da Prefeitura de São Bernardo. Formado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é mestre em Administração pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) e doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Entre 1987 e 2002, foi assessor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Assessorou a Central Única dos Trabalhadores (CUT), entre 2003 e 2008. Atualmente, é professor de Economia Brasileira da USCS. Na entrevista a seguir ele fala sobre o desenvolvimento da Região, as iniciativas para estimular a inovação e comenta os impactos positivos para o ABCD da possível produção de aviões caças. 

    INOVABCD – Como o senhor avalia o cenário econômico na Região do ABCD hoje?
    Jefferson – O ABCD é uma Região que nucleou os investimentos da grande empresa fordista a partir dos anos 1950, atraindo nesse processo uma grande população. Na década de 1990 a Região passou por uma forte mudança de perfil, caracterizada pela desindustrialização e pela maior concentração em comércio e serviços. Passou também por mudanças significativas no processo produtivo, que passou a demandar uma quantidade menor de mão de obra. De 2003 para cá, esse processo de perda de empresas e de postos de trabalho foi em parte revertido. A arrecadação aumentou, houve a expansão do polo petroquímico, as montadoras voltaram a investir na Região e o setor de serviços ganhou corpo. Além disso, iniciativas como a criação da Universidade Federal do ABC (UFABC)19 e a da Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC contribuíram para dar uma nova identidade à Região. Apesar dessa reversão de tendência em relação à década de 1990, o desemprego na Região ainda é alto e há, ainda, um grande número de galpões vazios. Ou seja, há muito ainda a ser feito para que o desenvolvimento regional alcance níveis satisfatórios. 

    INOVABCD – Até que ponto o ABCD, hoje, se mostra atraente para as empresas?
    Jefferson – Tenho tido contato com diversas empresas que deixaram a Região e que já consideram seu retorno. O fato de estarem em uma região mais desenvolvida, dentro daquilo que muitos chamam de clusters, oferece a essas empresas sinergias que não estão disponíveis em outras localidades. Penso que esse é um entre muitos diferenciais significativos nesse sentido. A própria existência de sindicatos fortes na Região é positiva para as empresas. Os sindicatos podem ser duros aqui, mas os acordos são valorizados. Há uma confiança nas relações. Quando se tem, por exemplo, regras visando participação nos lucros e resultados, metas de performance são estabelecidas. Muitas empresas que deixaram a Região enfrentam dificuldades para adotar mecanismos semelhantes e se ressentem disso.

    INOVABCD – Que estratégias de desenvolvimento o ABCD precisa seguir?
    Jefferson – A estratégia da Região é buscar a manutenção da trajetória industrial por uma via que contemple muito fortemente o desenvolvimento tecnológico. A existência de centros de pesquisa, o estímulo à inovação, a relação com a universidade são fatores importantes não apenas para manter as empresas que aqui se encontram, mas também para atrair novas. Não é, portanto, algo que se limite a ações isoladas, como a concessão de incentivos fiscais. O incentivo pode existir. Mas ele tem de vir colado a uma política que estimule o desenvolvimento tecnológico. 

    INOVABCD – E como isso se daria?
    Jefferson – É preciso considerar que o valor está sendo gerado em áreas relativamente pequenas – que são os centros de engenharia, de design, as áreas de projetos. É essencial ter aqui, na Região do ABCD, ao menos uma parte desse processo, até para criar uma âncora para a parte física. Ou seja, é fundamental criar empresas capazes de gerar mais empregos e empregos melhor qualificados e com melhor remuneração. 

    INOVABCD – Qual o papel do poder público nesse quadro? 
    Jefferson – O papel do poder público é captar as tendências e orientar o rumo do processo de desenvolvimento econômico. O papel do gestor é ler corretamente esses movimentos e buscar organizá-los de uma forma dialogada. É fato que, num plano municipal, nós não dispomos de ferramentas como taxa de juros, taxa de câmbio ou política salarial. Mesmo assim, podemos desempenhar um papel importante visando aglutinar e coordenar processos e também atuar para atrair novos investimentos. Podemos, por exemplo, criar leis municipais de apoio à inovação, que facilitem a reutilização de áreas degradadas ou a constituição de centros de pesquisa. 

    INOVABCD – O que está sendo feito de concreto nesse sentido?
    Jefferson – Temos conversado muito com empresas e entidades da Região. Recentemente, por exemplo, tivemos uma reunião com a Fundação Termomecânica, que tem uma longa tradição na área educacional. Eles nos pediram ajuda para entrar em contato com empresas da Região a fim de montar cursos efetivamente voltados para as suas necessidades. Paralelamente também colocamos o pessoal da Fundação em contato com uma universidade de Bolonha, na Itália, que vinha buscando uma parceria na área de design. Outro exemplo desse papel coordenador da prefeitura é a aproximação que estamos buscando entre a Universidade Metodista, que tem um curso de Comércio Exterior, com diversas pequenas empresas da Região. O objetivo é permitir, com o apoio de pessoal qualificado, que elas descubram e passem a explorar as eventuais oportunidades existentes no mercado externo. 

    INOVABCD – De zero a cem, quão inovador é o ABCD?
    Jefferson – Eu diria entre 85 e 90. O que é um índice que eu julgo alto, mas pode avançar mais. É bom lembrar que o conceito de inovação não se restringe a criar produtos ou processos novos. Não é apenas no âmbito produtivo que a inovação se manifesta. Também se pode falar em inovação no âmbito social e institucional. Nesse caso, o ABCD é igualmente avançado. Isso fica evidenciado não só naqueles aspectos de caráter sindical, já citados, mas também em iniciativas como o Plano Plurianual Participativo (PPA), na esfera do executivo municipal, ou a criação do Consórcio Intermunicipal Grande ABC. Poucas regiões do País possuem um instrumento como esse. 

    INOVABCD – E nos limites mais estritos da tecnologia?
    Jefferson – No campo estrito da tecnologia, é importante destacar que a Região foi, e continua sendo em grande parte, o centro da produção automotiva brasileira. Aqui não ocorreram apenas processos de tropicalização dos veículos. Muitos automóveis que viraram patente em outros países foram produzidos em nossas engenharias. Exemplos desse tipo de avanço estão presentes em outras áreas de atividade. Não há exagero em afirmar que o ABCD é um caldeirão de inovação.

    INOVABCD – Quais os desafios para fazer avançar a inovação?
    Jefferson – Acho que o grande desafio no sentido de dar uma face mais avançada para a Região é conseguir ações concretas de cooperação. Podemos, por exemplo, usar essa cooperação para reduzir nossos custos e nos tornarmos mais competitivos em aspectos que podem ir da geração de energia ao uso de transportes. Falta mais integração entre os participantes do jogo econômico com vistas a criar sinergias. Falta também levar a informação sobre o que já existe disponível em matéria de incentivo à inovação – como as linhas de crédito oferecidas pelo FINEP. A Prefeitura de São Bernardo tem, no seu site, uma área dedicada a informações dessa natureza. Mas é preciso, certamente, mais.        

    INOVABCD – E quanto às universidades?
    Jefferson – Temos diversas entidades na área acadêmica como FEI, Mauá, Metodista, Uniban, UFABC e Fatecs que podem desempenhar um papel importantíssimo em todo esse processo de busca constante da inovação. Penso, contudo, que elas ainda estão muito isoladas. Ainda não formam uma rede bem articulada com o setor produtivo e isso precisa mudar. 

    INOVABCD – Na questão dos caças do projeto FX2, a Região tem se mobilizado em conversações com a SAAB, que produz o Gripen NG. Por que isso?
    Jefferson – O projeto do Gripen NG é aquele que, até agora, se apresenta como o que mais benefícios pode trazer para o País e para a Região do ABCD. Isso levando em conta o aspecto produtivo e de domínio da tecnologia. Nós da Região, liderados pelo prefeito Luiz Marinho, estamos fazendo a nossa parte. Tive a oportunidade de acompanhá-lo em sua recente viagem a Suécia quando pudemos conhecer a fábrica e o polo de tecnologia. Estamos, enfim, nos apresentando como parceiros interessados em participar de um projeto que pode ter um peso muito grande para o futuro da Região. Vale notar que, embora já exista um caça Gripen, a proposta é desenvolver um novo projeto com participação tecnológica brasileira. 

    INOVABCD – Várias regiões são também candidatas a participar desse projeto. Como isso se resolve?
    Jefferson – A produção de um avião envolve múltiplas etapas. Boa parte deverá ser desenvolvida em São José dos Campos, que já conta com uma tradição na área aeronáutica. Mas o ABCD também tem plenas condições de atuar com propriedade nesse projeto. Há conversações no sentido de que a produção das asas e da fuselagem central e traseira seja feita aqui no ABCD. A ideia é casar a produção fabril com a geração de tecnologia a partir dessa atividade, de forma a se obter o conhecimento necessário para a futura produção de caças pelo País. 

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