Jefferson
José da Conceição
A
inovação é item fundamental da competitividade das empresas,
cidades e países. O modelo clássico de inovação de produtos,
serviços, materiais e processos, vigente na maior parte do século
XX, foi aquele em que a inovação era realizada em ambientes
fechados no interior das empresas. Eram os departamentos e
laboratórios de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) das empresas os
responsáveis quase que exclusivamente pela inovação. A empresa
detentora da inovação detinha por longo período ganhos extras
derivados do controle monopólico da inovação. Este é o modelo de
“inovação fechada” (“closed innovation” em inglês).
Como
mostrou Chesbrough (2003; 2006), a forma como ocorre inovação
está mudando desde o final do século passado e neste século XXI.
Vivemos em um mundo marcado por intensas e rápidas transformações.
Entre as quais: a globalização da pesquisa e do conhecimento; a
existência de um número cada vez maior de recursos humanos e
instituições que lidam com a geração de novos conhecimentos e
inovações; a influência das tecnologias de comunicação, que
permitem um fluxo rápido e em tempo real de informações.
Hoje, por melhor que seja o seu departamento de P&D, nenhuma
empresa consegue reunir todos os melhores talentos e especialistas da
sua área de negócio, e tampouco consegue reter todo conhecimento
que envolve uma inovação. Atualmente, as inovações ocorrem com
maior frequência, fluem mais rapidamente para fora de um domínio
exclusivo e exigem grandes volumes de recursos financeiros.
A
inovação tende a se dar de forma cada vez mais “aberta”,
combinando ideias e conhecimentos novos surgidos no interior da
empresa com ideias e conhecimentos oriundos do ambiente externo à
empresa. Em outras palavras, também na fase da inovação o mundo
interno à empresa passou a interagir intensamente com o mundo
externo, por meio de vários formatos possíveis de parcerias. Este é
o modelo de “inovação aberta” (“open innovation”, em
inglês).
Neste
modelo, os departamentos de P&D devem dialogar mais com os outros
setores da empresa (finanças, área comercial, publicidade, etc) e
realizar cooperações com outras empresas e instituições, como
universidades, centros de tecnologia, start ups, fornecedores,
empresas de comercialização, usuários, entre outros. Neste
sentido, os parceiros da empresa na inovação podem estar
localizados em várias partes do mundo (colaboração em rede).
Registre-se que as inovações podem também ser aplicadas em
mercados cada vez mais globais.
A
cooperação pode se traduzir, por exemplo, na aquisição pela
empresa de licenciamentos, patentes e propriedades intelectuais
provenientes de outras empresas, organizações e instituições. E o
fluxo também deve ocorrer no sentido inverso: as inovações
internas da empresa podem ser socializadas com o ambiente externo,
por meio de joint ventures, licenciamentos, spin-offs etc.
O
quadro a seguir ilustra a diferenciação entre inovação fechada e
inovação aberta:
PRINCÍPIOS
DA INOVAÇÃO FECHADA
|
PRINCÍPIOS
DA INOVAÇÃO ABERTA
|
As
pessoas competentes trabalham para nossa empresa.
|
Pessoas
que também são competentes trabalham fora da empresa. Precisamos
trabalhar com pessoas competentes dentro e fora da empresa.
|
Devemos
lucrar a partir de P&D. Nós mesmos devemos realizar
descobertas, desenvolve-las e comercializa-las.
|
P&D
externos podem criar valores significativos. P&D interno é
necessário para reivindicar alguma parte destes valores.
|
Se nós
realizarmos as descobertas por nós mesmos, conseguiremos o
mercado desta inovação primeiro.
|
Nós não
temos que, necessariamente, originar a pesquisa para lucrar com
ela.
|
A
empresa que primeiro alcançar uma inovação ganhará o mercado
(desta inovação).
|
Construir
um modelo de negócio (para esta inovação) é melhor que
alcançar o mercado primeiro.
|
Nós
venceremos, se nós criarmos as melhores ideias no negócio em que
atuamos.
|
Nós
venceremos, se nós fizermos o melhor uso das ideias internas e
externas à empresa.
|
Deveríamos
controlar nossas propriedades intelectuais, de forma que nossos
concorrentes não lucrem com nossas ideias.
|
Deveríamos
lucrar com o uso por parte de outros de nossas propriedades
intelectuais; e deveríamos adquirir as propriedades intelectuais
de outros, sempre que isto faça avançar nosso modelo de negócio.
|
Fonte:
Chesbrough (2003), apud Hällbrant e Ingvarsson (2012). Tradução
livre.
Hällbrant
e Ingvarsson (2006) deixam claro que existem várias formas de
praticar e realizar a inovação aberta. Esses autores sumarizaram
parte das abordagens sobre o tema da seguinte forma:
“Surgiram maneiras
diversas de praticar a inovação aberta em diferentes níveis. Hagel
e Brown (2006) discutem o fenômeno da criação de redes, nas quais
centenas ou mesmo milhares de participantes colaboram para criar
novos conhecimentos com um organizador da rede que coordena a
inovação distribuída, colaborativa e cumulativa. Etzkowitz e
Leydesdorff (1995) discutiram o modelo de “tríplice hélice”,
que se baseia em laços entre as instituições que se sobrepõem.
Esses autores descrevem como a indústria, as universidades e os
governos podem colaborar para criar inovação. Von Hippel (2005) pôs
em evidência o potencial de usuários no desenvolvimento de
inovações, em vez de apenas serem sujeitos passivos de inovações.
De acordo com Almirall (2008), a participação do usuário ainda
está apenas no início; igualmente faltam estrutura e participação
do governo. Intermediários, tais como InnoCentive e Yet2.com,
forneceram uma estrutura para que os usuários participem, mas são
restritos quanto ao fluxo de entradas e saídas de ideias.
Laboratórios vivos (Living Labs) são arenas onde os atores podem
experimentar ambiente reais, abertos (Almirall, 2008). Nos
“laboratórios vivos” autoridades públicas e cidadãos colaboram
para criar, prototipar, validar e testar novos serviços, negócios,
mercados e tecnologias (Niitamo, Kulkki, Eriksson e Hribernik, 2006).
Outras formas de laboratórios abertos são aquelas realizadas com
clientes, funcionários, fornecedores e especialistas (Sundbo,
2011)”.
Não
obstante estas diferentes formas de praticar a inovação aberta, é
aceito que para que este processo cooperativo da inovação aberta
ocorra, as empresas, instituições acadêmicas, start ups e
outros parceiros devem estar sintonizados quanto aos desafios,
objetivos, agendas e cronogramas.
As
arenas de inovação – espaços físicos / eventos nos quais estes
atores e instituições se encontram – visam criar as condições
favoráveis para este alinhamento em torno de desafios da inovação
a serem enfrentados em determinado tema ou área. As arenas facilitam
a interação entre os atores. Em outras palavras, nas arenas de
inovação, as empresas buscam cada vez mais constituir uma rede de
conexões com instituições, universidades, centros de pesquisa e
start ups com objetivo de estabelecer desafios conjuntos e
programas de inovação aberta.
Portanto,
na prática, as arenas de inovação são espaços de networking,
co-criação e colaboração em diferentes níveis.
Ainda
de acordo com Hällbrant e Ingvarsson (2006):
“Há quatro dimensões de
arenas de inovação aberta. Em primeiro lugar, a dimensão formal,
diz respeito aos contratos formais e acordos de propriedade
intelectual, que parecem sempre ser um problema em arenas de inovação
aberta. Alguns redigem contratos formais, enquanto outros tentam
contornar a necessidade disto, trabalhando em um nível tal que não
haja a necessidade de trocar conhecimentos confidenciais. Em segundo
lugar, a dimensão informal preocupa-se com a geração de confiança
e motivação dentro de uma arena de inovação aberta. Em terceiro
lugar, a dimensão física diz respeito a como a arquitetura da arena
influencia as pessoas que nela participam - e, por esta via, permitir
que elas trabalhem em conjunto de forma eficaz, partilhem recursos -
e se a arena se estende para o mundo virtual. Finalmente, a dimensão
estrutural diz respeito ao que os diferentes atores da arena
realmente fazem juntos e como suas atividades e processos são
estruturados”.
Uma
característica bastante importante ainda em relação às arenas de
inovação é o impulso que elas dão ao empreendedorismo das
empresas iniciantes, especialmente as start ups. As arenas
permitem um diálogo direto desses empreendimentos com os projetos
estruturantes das empresas (por conseguinte, com potenciais mercados
consumidores), com os governos (quando este está envolvido) e com as
universidades e centros de pesquisa.
Cabe
mencionar também que, no caso dos países em desenvolvimento, como o
Brasil, o papel dos governos na estruturação de arenas de inovação
cresce ainda mais em importância (note-se que o papel dos governos
nos países desenvolvidos também é significativo). Em geral, nos
países em desenvolvimento, é grande o distanciamento entre as
empresas, as universidades e os empreendimentos do tipo start ups.
Por conseguinte, cabe ao governo - em suas três esferas, União,
Estados, Municípios - exercer o papel de broker (“quebrador
de gelo”) e estimular a inovação aberta e as arenas de inovação.
Neste caso, parece ser bem adequado aos países como o Brasil a
adoção do modelo de “tríplice hélice”, que alia Governos,
universidades e empresas em projetos econômicos conjuntos que exigem
superação de desafios tecnológicos. Este modelo é bastante
aplicado em países avançados como Suécia, EUA, Alemanha, ainda que
com diferentes variantes.
Assim,
tendo em conta essa perspectiva, é que a Prefeitura de São Paulo,
por meio da Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e
Empreendedorismo e da Agência São Paulo de Desenvolvimento
(Adesampa), organiza neste dia 7 de junho de 2016, a 1ª Arena de
Inovação do Município de São Paulo. Esta Arena, que tem como
principal tema os desafios para a Gestão de uma Cidade Global como
São Paulo, apresentará aos participantes - gestores públicos,
empresários, professores e estudantes – as propostas de soluções
apresentadas pelos projetos do Programa VaiTec, bem como por outras
iniciativas em curso na Gestão do Prefeito Haddad. A intenção é
criar e fortalecer vínculos de relacionamento entre estes projetos e
os participantes.
Jefferson
José da Conceição é Pr. Dr. na USCS. É Diretor Técnico da
Agencia São Paulo de Desenvolvimento (Adesampa). Foi Secretário de
Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de São Bernardo Campo
entre janeiro 2009 e julho 2015. Foi Superintendente do Instituto de
Previdência de São Bernardo do Campo (SBCPrev) entre agosto de 2015
e fevereiro de 2016.
Referências
Bibliográficas:
CHESBROUGH,
H. Open Innovation: The New Imperative for Creating and
Profiting from Technology. Harvard Business School Press: Boston, MA,
2003.
______;
VANHAVERBEKE, W; WEST, J. Open Innovation: Researching a New
Paradigm. USA: Oxford University Press, 2006.
HÄLLBRANT,
Markus; INGVARSSON, Johan. Creating Open Innovation Arenas. Chalmers
University of Technology: Gottemburg, Sweeden, 2012. Report n. E
2012.
Disponível
em: http://publications.lib.chalmers.se/records/fulltext/154956.pdf
Artigo publicado no site do ABCDMaior em 7/6/2016.
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