Secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de São Bernardo e ex-funcionário do Sindicato, Jeferson José da Conceição, homenageia aniversário da entidade
O período entre 1959 e 1963 é marcado por fortes mobilizações do movimento sindical. Além das lutas por melhores salários e abono de natal (13º salário), o Sindicato organizou manifestações contra a carestia; a encampação da refinaria de Capuava (no contexto da campanha "O petróleo é nosso"); as lutas pelas Reformas de Base.
Entre 1964 e 1977, o Sindicato viveu sob a sombra dos interventores e das prisões e perseguições de lideranças sindicais, militantes e trabalhadores
De lá pra cá, muita coisa mudou. Derrotado em três eleições para Presidência da República, a principal liderança do Sindicato e do PT, Luis Inácio Lula da Silva, torna-se Presidente da República nas eleições de 2002 e é reeleito em nas eleições de 2006. Sua popularidade tem se mantida elevada em todas as pesquisas de opinião.
Mas as mudanças foram profundas também para o parque industrial do ABC e para a categoria representada pelo Sindicato.
Hoje, a participação da indústria no total dos empregos é bem menor do que o que verificávamos nas décadas de 1970 e 1980. Caiu a participação relativa da indústria e subiu o peso do comércio e dos serviços no total de empregos. Antigas fábricas industriais foram substituídas por modernos shoppings, hipermercados, franquias de fast food e igrejas. Isto pode ser emblematicamente percebido, por exemplo, com a mudança da Avenida Industrial
Atualmente, participação das importações é significativamente maior do que, por exemplo, quando das greves de 1979 e 1980 no ABC. Naquele período, as importações eram praticamente proibitivas. Em 1979, o volume de importações das montadoras em autoveículos e componentes não passava de US$ 276 milhões. Quase três décadas depois, em 2007, o volume de importações já alcançava US$ 8,4 bilhões, de acordo com os dados da ANFAVEA.
O interior da fábrica metalúrgica também mudou. Hoje, o conceito de "planta industrial" é mais apropriado do que o da antiga "fábrica". A linha de montagem foi bastante refeita. A automação e a adoção de novas formas de organização da produção, tais como o Just in time, as células de produção e o trabalho em equipe, aumentaram expressivamente a produtividade do trabalho. Em 1976, foram produzidos cerca de 981 mil veículos no Brasil, com o emprego de 117,8 mil empregados. Isto dá uma média de 8,3 veículos produzidos ao ano por empregado. Trinta anos depois (2005), foram produzidos 2,5 milhões de veículos, com 94,2 mil empregados. O que significa que a produtividade hoje é superior a 27 veículos por trabalhador ao ano
Outro fenômeno importante, que mudou as características da fábrica atual, foi o intenso processo de terceirização que ocorreu desde então. Tome-se, por exemplo, o caso da planta da Volkswagen
Destaca-se também o processo de descentralização da produção que ocorreu desde então. No final da década de
Diante deste conjunto de profundas mudanças na vida econômica nacional e no processo produtivo, a agenda do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC mudou. O emprego passou para o centro desta agenda. No final da década de
Desta forma, nota-se, por parte do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, uma série de ações em prol da defesa do emprego: Frente contra a Recessão com as Prefeituras em 1990; Vigília contra a Recessão em 1991; Câmara Setorial Automotiva em 1992; negociações de reestruturação produtiva ao longo de todo o período; acordos de flexibilização da jornada com redução da jornada média e campanha "Diz Emprego Brasil" em 1995; Câmara Regional do ABC em 1997; acordo da Volkswagen para evitar 10 mil demissões em 1997; Acordo Emergencial do Setor Automotivo em 1998; apresentação de proposta para a Renovação e Reciclagem da Frota de Veículos em 1998; participação na criação da Agencia de Desenvolvimento Econômico no ABC em 1998; acordo da VW para evitar o corte de 7,5 mil postos de trabalho e Maratona pelo Emprego em 1998; acordo do lay-off na Ford, evitando a demissão arbitrária de 2,8 mil empregados em 1999; a formação das primeiras cooperativas de produção na categoria desde 1999; a criação da Central de Trabalho e Renda também naquele ano; o enfrentamento e negociação em relação ao anúncio de reestruturação da Volkswagen em 2008, com a possibilidade da demissão de 5800 demissões, inclusive com a ameaça do próprio fechamento da fábrica
A história do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC sintetiza com perfeição a trajetória e as contradições da economia e da sociedade brasileira no último meio século. Por isto, neste momento em que completa 50 anos, trata-se de olhar para trás e analisar todo este período, caracterizado por lutas, conquistas, mas também, porque não dizer, por momentos dramáticos. Esta auto-análise é subsídio vital para que o Sindicato - suas lideranças, militantes e categoria em geral - possa olhar para frente e continuar a ser referência no encontro de soluções criadoras para os novos desafios postos pelo presente e pelo futuro.
Jefferson José da Conceição é o atual Secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de São Bernardo do Campo. Trabalhou no Sindicato entre 1987 e 2003, como assessor da Subseção Dieese. Contribuiu para estruturar a Subseção DIEESE na CUT entre 2003 e 2008. É Economista, Professor da USCS e autor de livro sobre o sindicalismo na Região do ABC. Título: "Quando o Apito da Fábrica Silencia: sindicatos, empresas e poder público diante do fechamento de indústrias e da eliminação de empregos na Região do ABC". Editora ABCDMaior, 2008.
Jefferson José da Conceição é secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de São Bernardo
*Artigo publicado no site do ABCDMaior
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