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quarta-feira, 29 de abril de 2015

CRISE E O RETORNO DE KARL MARX

Jefferson José da Conceição e Roberto Vital Anav
Parte das dificuldades econômicas atuais do Brasil pode ser explicada pela prolongada crise econômica mundial. É preciso, pois, entender esta última. Para isto, é necessária uma base teórica consistente. A obra de Karl Marx, em especial “O Capital”, é essencial para ajudar a interpretar os movimentos mais largos do sistema econômico. Marx – assim como depois também fizeram grandes economistas como Schumpeter e Keynes - divergiu do argumento de que as crises são anormais no capitalismo. Para ele, as crises nascem da própria dinâmica do crescimento econômico capitalista.
Marx assinalou dois traços característicos do capitalismo: a) as crises são cíclicas; b) haveria uma tendência ao aumento da desigualdade social. Ele atribuiu as crises como resultado do constante aumento da produtividade, decorrente do uso de tecnologias sempre mais avançadas, determinado pela concorrência entre os capitalistas. Entretanto, o aumento da produtividade (ou do “excedente”) seria muito maior do que o aumento do poder aquisitivo dos trabalhadores. Isto se deve ao mecanismo da exploração e à extração crescente de mais-valia. Em certo momento, a economia sofre uma pane. Não se consegue vender a massa de produtos gerados.
O mesmo processo – produtividade em ascensão, não acompanhada pela renda dos trabalhadores - explica a tendência à concentração da renda em mãos dos capitalistas e segmentos sociais a eles ligados. O recente livro de T. Piketty (“O Capital no Século XXI”) demonstrou com estatísticas a efetivação dessa tendência à desigualdade nas últimas décadas, em que o neoliberalismo destruiu as políticas sociais distributivas. A crise financeira de 2008, na qual se observou que o valor total circulando em títulos financeiros representava mais de 10 vezes o valor da efetiva produção de bens e serviços no mundo, também revelaria, de um lado, os resultados da liberalização financeira, fruto das políticas neoliberais; de outro, e de modo mais profundo, este descompasso entre a expansão do excedente e sua pequena apropriação pelos assalariados. Desde então, vivemos a maior crise dos últimos 80 anos.
Registre-se que medidas como a aprovação pela Câmara dos Deputados do Projeto de Lei 4330, que facilita a terceirização no Brasil, agravam este quadro, tendo em vista que contribuem para precarizar ainda mais as relações de trabalho e concentrar a distribuição de renda.
Pessoas que sabidamente não são marxistas têm alertado para a legitimidade dos prognósticos de Marx em nosso tempo. O megainvestidor George Soros e o ex-economista-chefe do maior banco suíço alertaram para a instabilidade crônica do capitalismo, antevista por Marx. A diretora do FMI, Christine Lagarde, invocou Marx em 2014. Ela e o chairman da Unilever se alarmam com a desigualdade crescente. Gestores sem qualquer interesse em validar Marx – ao contrário! – citam-no para alertar sobre os perigos atuais do capitalismo mundial.
Ler e reler as análises de Marx, Keynes e Schumpeter é indispensável para compreender a crise econômica capitalista. Uma dessas releituras será lançada no segundo semestre, pela Fundação Perseu Abramo, na forma de livro: “O retorno de Karl Marx”. A obra foi escrita por Roberto Anav, um dos autores deste artigo. Aguarde!
Jefferson Conceição José da Conceição é Secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo (SDET) de São Bernardo. Economista, Mestre em Administração e Dr. em Sociologia. Prof. da USCS
Roberto Vital Anav é assessor econômico da SDET. Economista, Mestre em Economia e Doutorando em Políticas Públicas, pela UFABC. Pro. da USCS
Artigo publicado no ABCDMaior em 29/4/2015.

#marx#crise

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