O famoso economista austríaco Joseph Alois Schumpeter mostrou a
importancia, para o sistema econômico,
do empresário inovador, aquele que, na perspectiva de aumentar seus lucros,
destrói paradigmas e inova em produtos e processos de produção. Toda a
sociedade sai ganhando com este espírito empreendedor “animalesco” que gera a
“destruição criadora”. É isto que acontece sempre que um empresário tem uma
“ideia” e a transforma com sucesso em novos mercados e negócios.
Entretanto, nem todo empresário é inovador. Isto é bem evidenciado no
Brasil. O modo pelo qual o país se desenvolveu - desde os primórdios de sua
formação no século XVI, passando pelos tempos da economia primário-exportadora,
até as fases da industrialização e da predominância dos serviços - não
propiciou uma cultura de busca do lucro por meio da inovação e quebra de
paradigmas. O lucro fácil, elevado e rápido verifica-se aqui e acolá no modo de
operação capitalista no Brasil. Um
número expressivo vive apenas do “comprar barato e vender caro” e da obtenção
de lucros exorbitantes.
Há ainda aqueles empresários que valorizam seu capital por via tão-somente
do rentismo, dos lucros provenientes das aplicações financeiras. Estes
empresários da financeirização não costumam apostar no crescimento da riqueza
pelo trabalho, parcimonia e inovação produtiva. Eles não querem ter o trabalho
de sujar o paletó com graxa, estruturar linhas de produção, organizar equipes
grandes de colaboradores, trabalhadores, fornecedores, clientes etc.
Existem também empresários que buscam aumentar seu patrimonio, não por meio
de inovações criativas que ajudam a melhorar a vida cotidiana das pessoas, mas sim valendo-se de suas relações com o
Estado, o ente público. Paradoxalmente,
muitos deles vociferam palavras de ordem contra a alta carga tributária
e o excesso de intervenção estatal. Mas, em realidade, não querem deixar de
“mamar nas tetas” do aparelho estatal. Deles, não se sabe de qualquer inovação.
Mas o Brasil, felizmente, tem sua gama de empresários inovadores conforme
descrito por Schumpeter. A Região do ABC, por exemplo, conheceu, na área
industrial, alguns ilustres empresários deste tipo. Apenas para citar alguns:
Ciccillo Matarazzo, Luiz Villares, Salvador Arena, Abraham Kasinsky, José
Mindlin, entre tantos outros. Pouco a pouco, a história destes empresários vai
sendo resgatada e contada conforme merecem. Livros, teses, artigos e filmes têm
buscado recuperar o papel destes indivíduos e empresas na história da inovação
no Brasil.
Menos conhecidos são os empresários inovadores de outros segmentos, como o
dos serviços, especialmente em áreas que só recentemente o Brasil passou a
valorizar, como o turismo.
Este, pois, é, a meu ver, o contexto em que se insere a perda que tivemos,
nesta semana, do empresário Elói Carlone, que, agora, senta-se ao lado daqueles
grandes empresários visionários da Região do ABC e do Brasil e de quem tanto
sentimos falta, em tempos de falta de criatividade e de arrojo para enfrentar
os desafios e superarmos as crises e atingirmos o desenvolvimento.
No caso de Elói Carlone, pude eu mesmo, na condição de então Secretário de
Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo de São Bernardo do Campo (de 2009
a julho 2015), testemunhar o otimismo desbravador e a insastifação constante do
empreendedor que queria quebrar paradigmas com projetos ousados de
transformações. Assim era Elói Carlone.
O Estancia Alto da Serra - uma das mais bem sucedidas casas de eventos do
Brasil, palco de apresentação de inúmeros artistas novos e consagrados, de
todos os gêneros musicais - é apenas a obra mais conhecida deste empresário
inovador. Mesmo sabendo ser a casa de shows um caso de sucesso, Elói não parava
de nela inovar e projetar mudanças. Nos últimos anos, realizava, na mesma área,
projeto de educação e turismo ambiental. Queria mostrar a importância da
sustentabilidade ambiental para as crianças, jovens e famílias. Estava
conectado com o seu tempo.
Também tentava viabilizar em área contígua ao Estância um Museu do
Automóvel no local. Com esperança, abria sobre a mesa o desenho do projeto. Não
duvido que ele conseguisse transforma-lo em realidade daqui a alguns anos.
Nos vários encontros e reuniões que tivemos, ficou clara a sua contribuição
vital para o avanço e realização de vários projetos regionais no campo do
turismo, em especial na cidade de São Bernardo do Campo. Conversamos sobre
diversas iniciativas que a Gestão do Prefeito Luiz Marinho almejava implementar
a partir de sua posse em 2009. Em todos os projetos, Carlone queria agregar
ideias novas e explorar oportunidades que seus olhos empreendedores viam.
Foi assim nas obras públicas de requalificação dos equipamentos turísticos
de São Bernardo, como a Cidade da Criança, o Parque Estoril e a Prainha do
Riacho Grande.
Na gestão anterior a do Prefeito Luiz Marinho, a Cidade da Criança ficou
fechada durante quatro anos. Após investimentos que realizamos em 2009, ela
voltou a funcionar e a contar, gradativamente, com várias atrações e
equipamentos. Hoje são dezenas. Mas no momento da reabertura que fizemos, em
2010, havia ainda poucos brinquedos em funcionamento e na prática eram
possíveis apenas os circuitos de caminhadas. Neste instante, o empreendedor
Elói Carlone estava lá nos ajudando a encontrar soluções e alegrar a molecada,
com seus touros mecânicos, bois amestrados e cowboys ao estilo americano. Ainda
sob a nossa gestão, pude ver, anos depois, o empresário sonhar em abrir - e
executar de fato! - na mesma Cidade da Criança, uma cidade em miniatura,
construída no centro da histórica Vila Redenção, local da filmagem da primeira
novela realizada no Brasil.
O novo teleférico foi uma das mais simbólicas obras de requalificação do
Parque Estoril. O teleférico foi reconstruido e reativado em abril de 2012,
após estar parado por mais de 15 anos. A obra de construção do novo teleférico
foi da Prefeitura, mas o tino comercial da operação do equipamento, porém, ficou com Elói Carlone e sua equipe do
Estancia Alto da Serra. Foi assim também no circuito de arvorismo e tirolesa,
trenzinho e outros equipamentos.
Pude perceber sua alegria com a revitalização da Prainha do Riacho
Grande, uma das mais estruturantes obras
determinadas pelo Prefeito, coordenada por nossa Secretaria, na área do
turismo, e entregue em março de 2014. Trata-se de um belo espaço turístico da
cidade, mas que não recebia investimentos desde 1970 e que sofria clara
degradação nas últimas décadas. Elói buscou articular os empresários locais
para pensar e implementar empreendimentos qualificados para o local.
A mesma energia do líder empresarial que queria um segmento mais unido e
atuante, inserido em planos de expansão contínua, fez com que ele, e mais um
grupo de empresários, criasse a ASSORTH, Associação de Hotéis, Restaurantes,
Bares, Turismo e Similares de São Bernardo do Campo. Com o apoio da ASSORTH e
do SEHAL, estruturamos o Festival Rotas dos Sabores, hoje já na sua quinta
edição.
O empresário ajudou-nos também a estruturar o Grupo de Trabalho de Turismo
(Getur) de São Bernardo do Campo. Era um dos seus membros mais ativos. O Getur,
constituído a partir de março de 2011, foi posteriormente transformado em
Arranjo Produtivo Local (APL) de Turismo de São Bernardo do Campo. Elói
compartilhava de nossa convicção de que o APL contribuía para o diálogo no
âmbito da cadeia produtiva do turismo, inserindo os participantes nas
discussões e estratégias para implantação das políticas públicas e privadas
voltadas ao fomento do turismo da cidade. Em várias feiras e eventos com os
quais participamos, por meio do APL de Turismo, com stands representando o turismo da Cidade de São Bernardo do Campo,
eram seus os atrativos mais procurados e que formavam maiores filas.
No caso do Programa de Turismo Industrial, que lançamos em 2013, Elói logo
conectou o Estancia como um dos equipamentos da rota de visitação. Sua ideia
era estimular com descontos os turistas que quisessem visitar o Estancia tão
logo tivessem conhecido o interior das fábricas.
Na visão do empresário, assim como na nossa, o APL de Turismo era o embrião
para o surgimento efetivo do Conselho Municipal de Turismo de São Bernardo do
Campo, uma das condições essenciais para que o Município pudesse reivindicar o
título de Município de Interesse Turístico e, posteriormente, o de Estância
Turística do Estado de São Paulo.
Vitalidade, energia e criatividade resumiriam o que foi o empreendedorismo
de Elói Carlone, um verdadeiro empresário inovador. Para nosso orgulho, Elói
teve sua história entrelaçada com a da Região do ABC.
Jefferson José da Conceição é Prof. Dr. na USCS. É Diretor Técnico da Agência São Paulo de Desenvolvimento, ADE SAMPA.
artigo publicado, em 27/2/2016, no blog do Jeff. Acesso: http://blogdojeff.blogspot.com.br
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